A INFLUÊNCIA DO NEGRO

Vítor Viana
Nascimento: 23/12/1881
Morte:21/08/1937

Vítor Viana

O negro foi o braço auxiliador básico de uma nova estrutura social. Os jesuítas, que tinham sido mercadores de pretos na África, eram favoráveis à libertação dos índios para os escravizar a seu modo.
Os colonos livres tiveram, portanto, de recorrer aos pretos, cujo trabalho já tinha sido experimentado nas ilhas e na própria metrópole.
Os negros se espalharam pelo Brasil e pela América. A campanha do Grão-Pará centralizava o tráfego. Depois a abolição foi necessária. Mas não é possível negar que a escravidão representou um grande papel social e foi um fator de formação e consolidação da nacionalidade. Os colonos eram pouco numerosos. Os pretos não poderiam, no estado de sua cultura, ser imigrantes livres. Só a escravidão garantiu o desenvolvimento das culturas tropicais. Houve época em que chegavam ao Brasil 100.000 negros por ano, sendo de 20 a 40% para o Rio de Janeiro.
Os registros de Angola de 1759 a 1803 marcaram a saída de 642.000 negros.
No século XIX, a proibição legal enfraqueceu o tráfego, mas a própria importância do deslocamento dos negros mostra como a sua transplantação foi fundamental para a criação do Brasil e de todos os outros países da América. A mortandade era tremenda. Se ainda no fim do século XIX, o célebre relatório Haddock Lobo provou o alto grau da mortalidade entre os escravos, como seria nos séculos anteriores? Mas as fazendas, os engenhos e as estâncias precisavam do braço escravo, sem o qual não teriam prosperado!
A cultura só poderia ser extensiva. Derrubavam-se florestas virgens para inaugurar as culturas transplantadas; mas todo esse trabalho exigiu braços numerosos. Todo o desbravamento do interior foi baseado no escravo, no negro que era o trabalhador. O branco era chefe, proprietário.
Não que o clima não permitisse o trabalho ao europeu, mas porque os poucos colonos não poderiam nem tentar lavrar a terra virgem e precisavam de muitos auxiliares. Só a África os poderia fornecer, e só a África os forneceu,
Daí a estrutura social da sociedade colonial. Os brancos herdeiros dos donatários e os concessionários das sesmarias, negociantes e funcionários, monopolizavam as classes dirigentes; os negros e os seus descendentes, mestiços ou não, os descendentes de alguns formadores de aldeamentos, mestiços ou não, como escravos ou salariados, estes sem direitos de verdade, a não ser o de não ser passível de venda e compra.
Essa formação social foi a causa do nosso rápido desenvolvimento em relação aos outros países da América Latina. O edifício social consolidou-se apoiado na escravidão, o equilíbrio permaneceu seguro; mas a produção mais tarde não correspondeu à população, porque não se tratou de aparelhar pela instrução os descendentes diretos ou indiretos das raças que colaboraram na formação do país.
(Histórico da formação econômica do Brasil, 1922.)

Fonte: ABL

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