Frases e pensamentos de Hilda Hilst

 
“Colada à tua boca a minha desordem. O meu vasto querer.”


"Alguns doutos em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo. E quem mais místico que Deus? Grande Intestino, orai por nós."


“Eu sempre me fascinei com o matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Ele dizia que para resolver seus intricados teoremas era movido apenas pela beleza das equações.
Na poesia também é assim. É uma espécie de exercício do não-dizer, mas que nos dilata de beleza quando acabamos de ler um poema.”


"Como se te perdesse nos trens, nas estações Ou contornando um círculo de águas Removente ave, assim te somo a mim: De redes e de anseios inundada"


“Te amo como as begônias tarântulas amam seus congêneres, como as serpentes se amam enroscadas lentas algumas muito verdes outras escuras, a cruz na testa lerdas prenhes, dessa agudez que me rodeia, te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.”


"Conta-se que havia na China uma mulher belíssima que enlouquecia de amor todos os homens. Mas certa vez caiu nas profundezas de um lago e assustou os peixes."


"Vontade de não dar sentido algum às coisas, as palavras e à própria vida. Assim como é a vida na realidade ausente de sentido."


““Conta-se que havia na China uma mulher belíssima que enlouquecia de amor todos os homens. Mas certa vez caiu nas profundezas de um lago e assustou os peixes.””


"Raros? Teus preclaros amigos. E tu mesmo, raro. Se nas coisas que digo Acreditares."


"Te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade"


"Se te pareço noturna e inperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses E era como se a água Desejasse..."


“Alguns doutores em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo. E quem mais místico que Deus? Grande Intestino, orai por nós.”


“Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.”


 
“Há sonhos que devem permanecer nas gavetas,
nos cofre, trancados até o nosso fim.
E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.”

“Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais.”

"Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças 
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa. 
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu."



"Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca 
Austera. Toma-me AGORA, ANTES 
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes 
Da morte, amor, da minha morte, toma-me 
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute 
Em cadência minha escura agonia." 
 
Rasteja e espreita
Levita e deleita
É negro. Com luz de ouro.
É branco e escuro.
Tem muito de foice
E furo.
Se tu és vidro
É punho. Estilhaça.
É murro.
Se tu és água
É tocha. É máquina
Poderosa se tu és rocha.
Um olfato que aspira
Teu rastro. Um construtor
De finitutes gastas.
É Deus.
Um sedutor nato.


Se a tua vida se estender
Mais do que a minha
Lembra-te, meu ódio-amor,
Das cores que vivíamos
Quando o tempo do amor nos envolvia.
Do ouro. Do vermelho das carícias.
Das tintas de um ciúme antigo
Derramado
Sobre o meu corpo suspeito de conquistas.
Do castanho de luz do teu olhar
Sobre o dorso das aves. Daquelas árvores:
Estrias de um verde-cinza que tocávamos.
E folhas da cor das tempestades
contornando o espaço
De dor e afastamento.
Tempo turquesa e prata
Meu ódio-amor, senhor da minha vida.
Lembra-te de nós. Em azul. Na luz da caridade.”

Araras versáteis 
Araras versáteis. Prato de anêmonas. 
O efebo passou entre as meninas trêfegas. 
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia. 
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca 
E vergastou a cona com minúsculo açoite. 
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios 
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco 
Empapou-se de mel nos refolhos robustos. 
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios 
Quando no instante alguém 
Numa manobra ágil de jovem marinheiro 
Arrancou do efebo as luzidias calças 
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii... 
E gozaram os três entre os pios dos pássaros 
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.  

  Amavisse
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
(II)

* * *
Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.
(Via Vazia - VIII)