Não era a cor morena outrora achada bela,
Ou então de beleza o nome não possuía;
Mas da beleza a justa herdeira agora é ela,
Pois degrada a beleza infame bastardia.
Porque se a mão usurpa os dons da natureza
E alinda o feio ao dar-lhe aspecto enganador,
Perdeu-se o nome e o templo amável da beleza,
Que vive profanada ou mesmo em desfavor.
Mas cabeleira cor de corvo tem a amada
E olhos que estão de luto e como que a chorar
As falsas belas que de belas não têm nada,
Pois suprem a criação com mentiroso ar;
E eles, chorando, tanto enfeitam sua agrura,
Que deveria ser assim a formosura.
William Shakespeare