Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,Na tranqüilidade dos que esqueceram a memóriaE nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.Estou pensando nos que vivem a vidaNa previsão do impossívelE nos que esperam o céuQuando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidõesE nos poetas que correm indefinidamenteEm busca da lucidez dos que possam atingirA festa dos sentidos nas simples emoções.Estou pensando num olhar profundoQue me revelou uma doce e estranha presença,Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fimPela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegriasNão sentiram o seu mistério impenetrável,Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhasSem a companhia de um silêncio e de uma oração,Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,Nas mulheres que correm mundoDistribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,Nos homens cujo sentimento de adeusSe repete em todos os segundos de suas existências,Nos que a velhice fez brotar em seus sentidosA impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.Estou pensando um pensamento constante e dolorosoE uma lágrima de fogo desce pela minha face:De que nada sou para o que fui criadaE como um número ficareiAté que minha vida passe.Adalgisa Nery