Canção do negrinho do pastoreio

Negrinho do Pastoreiro, 
Venho acender a velinha 
que palpita em teu louvor. 
A luz da vela me mostre 
o caminho do meu amor.

A luz da vela me mostre 
onde está Nosso Senhor.

Eu quero ver outra luz 
clarão santo, clarão grande 
como a verdade e o caminho 
na falação de Jesus.

Negrinho do Pastoreiro 
diz que Você acha tudo 
se a gente acender um lume 
de velinha em seu louvor.

Vou levando esta luzinha 
treme, treme, protegida 
contra o vento, contra a noite. . . 
É uma esperança queimando 
na palma da minha mão.

Que não se apague este lume! 
Há sempre um novo clarão. 
Quem espera acha o caminho 
pela voz do coração.

Eu quero achar-me, Negrinho! 
(Diz que Você acha tudo). 
Ando tão longe, perdido... 
Eu quero achar-me, Negrinho: 
a luz da vela me mostre 
o caminho do meu amor.

Negrinho, Você que achou 
pela mão da sua Madrinha 
os trinta tordilhos negros 
e varou a noite toda 
de vela acesa na mão, 
(piava a coruja rouca 
no arrepio da escuridão, 
manhãzinha, a estrela d'alva 
na luz do galo cantava, 
mas quando a vela pingava, 
cada pingo era um clarão). 
Negrinho, Você que achou, 
me leve à estrada batida 
que vai dar no coração. 
(Ah! os caminhos da vida
ninguém sabe onde é que estão!)

Negrinho, Você que foi 
amarrado num palanque, 
rebenqueado a sangue 
pelo rebenque do seu patrão, 
e depois foi enterrado 
na cova de um formigueiro 
pra ser comido inteirinho 
sem a luz da extrema-unção, 
se levantou saradinho, 
se levantou inteirinho. 
Seu riso ficou mais branco 
de enxergar Nossa Senhora 
com seu Filho pela mão.

Negrinho santo, Negrinho,
Negrinho do Pastoreio,
Você me ensine o caminho, 
pra chegar à devoção, 
pra sangrar na cruz bendita 
pelo cravos da Paixão. 
Negrinho santo, Negrinho, 
Quero aprender a não ser! 
Quero ser como a semente 
Na falação de Jesus, 
semente que só vivia 
e dava fruto enterrada, 
apodrecendo no chão.

Augusto Meyer