Moram em mimFundos de mares, estrelas-d'alva,Ilhas, esqueletos de animais,Nuvens que não couberam no céu,Razões mortas, perdões, condenações,Gestos de amparo incompleto,O desejo do meu sexoE a vontade de atingir a perfeição.Adolescências cortadas, velhices demoradas,Os braços de Abel e as pernas de Caim.Sinto que não moro.Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturasÉ habitada pelos corpos.Moram em mimGerações, alegrias em embrião,Vagos pensamentos de perdão.Como na terra das sepulturasMora em mim o fruto podre,Que a semente fecunda repetindo a vidaNo sereno ritmo da Origem.Vida e morte,Terra e céu,Podridão, germinação,Destruição e criação.Adalgisa Nery