Toré

Os dois maracás,
um fino e outro grosso,
fazem alvoroço
nas mãos do Pajé:

 
— Toré!
— Toré!

 
Bambus enfeitados,
compridos e ocos,
produzem sons roucos
de querequexé!

 
— Toré!
— Toré!

 
Lá vem a asa-branca,
no espaço voando,
vem alto, gritando...
— Meus Deus, o que é?

 
— Toré!
— Toré!

 
— É o Caracará
que está na floresta,
vai ver minha besta
de pau catolé...

 
— Toré!
— Toré!

 
Cabocla bonita,
do passo quebrado,
teu beiço encarnado,
parece um café

 
— Toré!
— Toré!

 
Pra te ver, cabocla!
na minha maloca,
fiando na roça,
torrando pipoca,
eu entro na toca
e mato onça a quicé!

 
— Toré!
— Toré!
Publicado no livro Cana caiana (1939).

Ascenso Ferreira