Os bárbaros de ontem, quando chegam,falam a mesma língua que falamos,e, quando não é o caso, há pessoasa traduzi-los para nós e a nos traduzirempara eles, de modo que, ao menos,o passível de consenso seja comunicado.A pompa para recebê-los é a mesma,os cerimoniais, se outros, pouco diferemdos de antes, mas, agora, com os jornaisnotificando tudo, nem é preciso o povoesperá-los no aeroporto, na praça principalou mesmo no palácio do governo.É hábito apenas que cada um folheie,o mais rapidamente, a informaçãojá esquecida pela notícia subsequente:se, antes, era preciso a espera dos bárbarospara se saber que não havia mais bárbaros,hoje aprendemos a viver sem eles.A não ser que algum remanescentedeles ecloda desfigurado, sem rosto,do meio da multidão do próprio país,lançando aviões contra arranha-céus,metralhando balas contra escolasou bombas contra uma praça qualquer.Alberto Pucheu(do livro "Mais cotidiano que o cotidiano", Azougue Editorial)